Os chamados esportes da mente são aquelas modalidades em que o uso do cérebro se sobressai em relação ao esforço físico. Essa classificação inclui jogos milenares, como xadrez, mahjong damas e go, além de alguns conhecidos jogos de cartas, como poker e bridge. Mas, afinal, o que isso tem a ver com marketing?
A resposta está em algumas características inerentes aos bons jogadores de esportes da mente que também são de ótimo uso para aqueles que buscam uma carreira consistente no marketing. Em outras palavras, ser um craque no xadrez ou um grande campeão de poker, por exemplo, pode te fazer um profissional melhor no mercado cada vez mais competitivo do marketing.
Não se engane: embora a sorte seja um fator presente em grande parte dessas modalidades, sobretudo nas que envolvem cartas, a grande chave do sucesso está em algumas habilidades não apenas para o momento do jogo, mas fora dele também. No marketing, as coisas funcionam da mesma forma, e listamos abaixo algumas das características de jogadores de esportes da mente que fazem grandes profissionais.
Estudar o tempo inteiro é fundamental
Quem já assistiu à série “O Gambito da Rainha”, da Netflix, deve ter percebido que a personagem principal dedicava muito mais horas nos livros e na revisão de jogos antigos do que propriamente disputando partidas. Isso se explica porque o tempo de estudo faz toda a diferença: é preciso agir de incontáveis formas diferentes a depender do modo como o tabuleiro se desenha.
No marketing, essa é uma das verdades absolutas. É difícil almejar uma carreira de sucesso a longo prazo sem passar algumas horas obtendo conhecimento de fontes valiosas, como Philip Kotler, Seth Godin, Al Ries, Jack Trout. Além disso, é crucial estar atento às constantes transformações do mercado, sobretudo no âmbito digital, onde uma nova tecnologia surge a cada segundo – ou menos.
No entanto, assim como nos esportes da mente, teoria e prática precisam andar lado a lado. Existem jogadores de xadrez que conhecem todas as jogadas já aplicadas na história do esporte, mas não conseguem colocar em prática quando a coisa é pra valer. É preciso ter uma boa base teórica, mas saber colocá-la em ação nos momentos corretos – algo que também é verdade no marketing.
O contrário também existe: há diversos aspirantes no mercado que se acham experts na área depois de fazerem um curso online de qualquer charlatão (acredite, eles estão por aí aos montes), sem ter qualquer embasamento de autores clássicos que praticamente definiram o mercado. Portanto, o equilíbrio é fundamental.
Conhecer os adversários faz a diferença
Já que estamos falando de autores, W. Chan Kim e Renée Mauborgne escreveram um dos clássicos do marketing, “A Estratégia Do Oceano Azul”. O livro, entre outros assuntos, traz uma abordagem de como neutralizar a concorrência em um mercado cada vez mais competitivo. Isso só é possível com um conhecimento de seus concorrentes através de pesquisas de mercado, benchmarking e outras estratégias.
Esse é um processo mais natural para quem está acostumado com modalidades como o poker, por exemplo, em que é fundamental saber quem são seus adversários, como jogam, quais seus estilos de apostas, ou o quanto demonstram suas emoções. A partir dessas informações, os grandes jogadores adequam suas tomadas de decisões e conquistam vitórias – diminuindo o peso do fator sorte.
Aqui, vale ressaltar uma característica fundamental nos esportes e no marketing: o poder de observação. Ficar atento a qualquer movimento, seja em uma mesa de poker ou no mercado, é crucial para ter melhores resultados.
Gestão de recursos
Ainda falando de poker, trata-se de uma modalidade diretamente ligada ao dinheiro. Afinal, os jogadores precisam administrar suas fichas o tempo todo. Isso se aplica não apenas dentro de uma partida: participar de torneios também exige um investimento de entrada, o chamado buy-in. Ou seja, todo jogador de poker tem um orçamento para lidar, e isso não é diferente no marketing.
Uma das premissas básicas para o sucesso com ações de marketing é a gestão correta do budget do cliente, ou seja, investir naquilo que traz boa possibilidade de retorno. Quem joga poker tem maior familiaridade com isso, mas com outro nome: sai budget, entra bankroll, como é conhecido na terminologia do poker – em outras palavras, gestão de banca. Ela é fundamental para ter uma solidez no esporte a longo prazo e não sair simplesmente distribuindo fichas em jogos e torneios.
No marketing, muitas vezes, a diferença entre campanhas que fracassam e as que têm sucesso é a forma como os gestores lidam com seus recursos – e aqui não falamos apenas da parte financeira, mas também o tempo e, claro, os recursos humanos. Ter uma visão assertiva do que é possível fazer com aquilo que se tem nas mãos é a chave do sucesso.
Mais estratégia, menos emoção
Este é, talvez, o ponto mais importante que liga os esportes da mente ao marketing. As características emocionais são inerentes a ambas. Aliás, elas estão presentes em praticamente toda atividade humana. Há momentos que requerem maior frieza e equilíbrio, outros pedem mais agressividade. Mas seja no marketing, no poker, xadrez, damas ou qualquer outro esporte, as ações precisam de um norte: a estratégia.
Em outras palavras, é o caminho previamente estabelecido para que se atinja um objetivo. No xadrez, aplicar um xeque-mate depende de uma série de movimentos pensados, não basta ir movendo as peças aleatoriamente. No poker, a analogia é a mesma: é preciso saber quais mãos jogar, quanto apostar e quando desistir, levando em conta alguns critérios como a posição na mesa e a quantidade de fichas, entre outros.
Tanto em um quanto em outro, as emoções podem acabar interferindo negativamente no plano estratégico previamente estabelecido – afinal de contas, somos humanos. Mas não fugir da estratégia, ou adequá-la quando necessário, está diretamente ligado ao êxito nos esportes, assim como no marketing.
Pense da seguinte forma: todos os passos de um planejamento estratégico foram tomados com base em análises, pesquisas, estudos de caso, benchmarking, artigos científicos, métricas digitais e outras tantas ferramentas. Por que colocar tudo a perder no calor da emoção por conta de um imprevisto no caminho? O bom profissional de marketing, assim como nos esportes, é aquele que está preparado para eles.
Que tal ser um jogador?
Esses são apenas alguns pontos de convergência entre os esportes da mente e o marketing – existem muitos outros. É inegável que a prática das modalidades traz alguns ensinamentos para os profissionais da área, além de melhorarem a capacidade de raciocínio e lógica, estimularem a atividade cerebral e colaborarem com a tomada de decisões assertivas.
Isso sem falar na diversão e competitividade que os jogos proporcionam. Afinal, ninguém é de ferro, muito menos os profissionais de marketing. A boa notícia é que todos esses esportes da mente podem ser jogados de maneira gratuita e online em diversas plataformas espalhadas por aí.